segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Último tudo

É de conhecimento geral que Rei Arthur inspirava amor no coração de cada subordinado durante seu famoso reinado. Mas uma parte da história ficou de lado, desconhecida pelas gerações posteriores, a história do como o rei inspirou amor no coração de uma jovem, e partilhou de sua cama. Não Guinevere, e nem Morgana. Apenas uma jovem amante que ficara esquecida por tanto tempo, ignorada pelos trovadores que estavam ocupados demais narrando façanhas dos cavaleiros ou então a traição de Guinevere e Lancelot. Coisa mais importante do que aquela insignificante criatura que por tão pouco tempo teve a atenção do rei.

Ela era bonita, na verdade quando chegou à corte fora disputada entre os mais ilustres cavaleiros de Arthur, sua beleza apenas não ultrapassava a da rainha, isso era inquestionável: Guinevere sempre seria a mais bela.

Mas de seus atributos mais incríveis não fora a beleza que chamou a atenção do rei, afinal. Foi sua inteligência. Era culta, e podia falar de qualquer assunto de maneira articulada, de um modo que Guinevere jamais seria capaz de fazer. Mas, de fato, sua inteligência não era páreo para a de Morgana, nem nunca seria.

O crescente que carregava na testa entregava suas origens: Era mais uma das filhas de Avalon. Morgana a mandou à corte para uma missão: Lembrar Arthur de suas raízes, lembrar a ele o dever que tinha para com Avalon. E a Senhora de Avalon tinha certeza de que escolheu a jovem certa para isso. Conhecendo o irmão, ela sabia o tipo de qualidades que o atrairiam. Uma armadilha de urso sofisticada.

Ciara era claramente uma espécie de intermediário entre Morgana e Gwen. Tinha o que faltava a ambas. A beleza que faltava na Grã-sacerdotisa e a inteligência que certamente faltava na rainha. Ainda assim não se comparava a nenhuma das duas em suas qualidades.

Mas o que tinha foi o bastante para atrair o interesse de Arthur, e não demorou muito para que se tornassem amantes. Ela era a síntese do que ele mais admirava nas duas mulheres mais importantes da sua vida, e ele simplesmente não pôde resistir a isso. O plano de Morgana ia bem, e Ciara sentia orgulho do que fazia em nome de Avalon, até o momento em que se descobriu irremediavelmente apaixonada pelo rei.

Certa vez, na cama do rei, ela acariciou o cabelo dourado de Arthur e perguntou:

- O que houve com você? Por que você deixou Avalon pra trás?

Ele confuso, levantou a cabeça do colo da amante para olhá-la:

- Nunca deixei Avalon pra trás.

-Você deixou no exato momento que levantou a bandeira da Virgem. Aquilo significou pra nós uma traição. Você nos abandonou, sua própria família...

Arthur levou uma mão ao rosto alvo de Ciara. Ele pôde notar as lágrimas nos olhos dela embora sua voz soasse firme e perfeitamente clara.

- Eu boto meu povo em primeiro lugar. Antes de tudo. E dei a eles o que queriam... – foi a resposta dele, que não pareceu a satisfazer. – Tal como você põe Avalon em primeiro lugar, e é uma das coisas que eu mais amo em você...

- É uma das coisas que mais ama em Morgana. – Ela o corrigiu. E se ele não tivesse visto com os próprios olhos as lágrimas rolando pelo rosto dela ele não teria notado sua tristeza, pois sua voz parecia ainda mais inabalável do que antes. – Sabe...eu te amo. Como nunca tinha amado ninguém...E pra mim, você vem acima de tudo, exceto da própria Deusa e meu dever para com ela. Eu só...queira que você se sentisse da mesma forma. Sobre mim e sobre a Deusa.

- Eu me sin...

Ele começou mas nunca terminou pois ela o interroumpeu pesarosa:

- Você não é um filho de Avalon. Não como eu sou. Já foi mas não é mais. Não a partir do momento que renegou a própria Mãe...

Arthur se levantou então encarando a figura de Ciara sentada encolhida na cama, abraçada aos próprios joelhos:

- Por que afinal Morgana te mandou aqui?

Ele não era idiota, ele sabia o tempo todo, é claro. Então por que deixou a coisa ir até esse ponto? Até que o coração dela doesse e sangrasse ao ver o homem que mais amava deixar tudo aquilo que ela mais amava cair em desgraça.

- Para concluir o que ela própria não concluiu.- Ciara disse, sua voz agora estremeceu. – Mas foi em vão. Porque você não ama ninguém mais do que a ama. E se ela não conseguiu...que chances tinha eu?

Agora seu choro era desenfreado e ela sentiu os braços de Arthur trazê-la para seu peito e pressiona-la contra ele:

- Eu te amo. – ele disse com incerteza em sua voz e então pigarreou. – Eu amo. –agora havia convicção , ela pôde notar. – Mas queria ter te amado do mesmo jeito que você me ama, então...tudo seria mais fácil.

-Eu sei. – ela disse, por fim. –Eu sei.

Sua voz era apenas um pequeno sussurro abafado pelo corpo dele, mas ela sabia que ele podia ouvir - ou pelo menos sentir- sua resposta.

Ela deixou os aposentos do rei não muito depois disso. Perturbada e com o coração partido. Ela não esperava ter se apaixonado assim. Não esperava tê-lo amado de tantas maneiras diferentes: como rei, amigo e homem. O rei teria sua admiração para sempre, mas era o homem em Arthur o que ela mais amava. E ela sabia que ao menos por alguns instantes ele a amou também. Ela não seria eterna como a Rainha ou inesquecível como Morgana ,mas ele a tinha amado. Mal esse pensamento lhe passou pela cabeça quando trombou com Morgana nos corredores do castelo.

- Senhora. – ela cumprimentou com um leve e respeitoso aceno de cabeça.

A verdade é que Ciara nem ao menos conseguia odiá-la, odiá-la por dar a ela aquela maldita missão ou odiá-la por ser o amor verdadeiro de Arthur. Ao contrário, ela só conseguia pensar em Morgana com doçura e enlevo. Isso a fez odiar a si mesma.

- Onde está indo? – Morgana a indagou. Provavelmente tendo notado sua pressa em sair do castelo.

-Eu sinto muito, Senhora.- Ciara começou. – Mas não posso fazê-lo...

Ela viu Morgana abrir a boca para retorquir mas ela não lhe deu a chance:

- Não há nada no mundo que eu ame mais do que servir aos propósitos da Deusa. Mas simplesmente não é pra ser...Essa missão não é minha. Eu o amo mas isso não é o bastante. Não é a mim que ele quer. Não estou desistindo, estou abrindo meus olhos. – e ela apontou o dedo para Morgana. – Só você podia tê-lo feito. É tarde demais.

-Muito bem então. – Morgana disse simplesmente, para a surpresa de Ciara que esperava duras palavras. – Você está certa, criança. Sinto muito ter exigido isso de você. Você é uma grande sacerdotisa...e a Deusa sabe disso. –acrescentou.

A afirmação fez o coração de Ciara bater mais rápido, não havia coisa que ela quisesse ouvir mais do que isso, não havia elogio mais gratificante, não para ela. E vindo de Morgana fazia soar ainda melhor.

-É tudo que sempre quis.

Morgana sorriu e acenou a cabeça positivamente:

- Pra onde você vai agora?

-Bem, você sabe, dizem que nosso lar é onde nosso coração está. E bem, grande parte do meu ainda está em Avalon e sempre vai estar...

- E o resto dele? – Morgana perguntou mas ela já sabia a resposta.

- Sempre vai estar com Arthur.

Em seus últimos momentos em Camelot, Ciara ergueu a cabeça para encontrar a figura de Arthur sobre um balcão. Ao ver que o olhar dele estava sobre ela, lhe sorriu amavelmente e lhe prestou uma mesura. Foi sua primeira reverência a ele, e também sua última. Foi a primeira vez que deixava um amor pra trás e também a última vez que o veria em vida.

Anos mais tarde, quando Morgana trouxe o corpo morto de Arthur para a Ilha Sagrada, Ciara tinha um lar de novo. E seu coração voltou a estar inteiro.

Inteiramente em Avalon.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Not good enough.












E se eu me tornar aquela pessoa que tenta agradar todo mundo e descobre, por fim, que não agradou nem a si mesma? O que dirá aos outros...
Aquela que não é bonita o bastante, inteligente o bastante, engraçada o bastante...
Boa o bastante.
O tipo de pessoa que vive pra tentar alcançar esses objetivos e por sua vez esquece de viver.
Ingênua o suficiente pra viver só de sonhos, mas, não forte o bastante pra realizá-los.
Aquela que olha ao redor e não vê mais ninguém,
Aquela que olha no espelho e nada vê.
Alguém que se convence que é nada por tempo o bastante de se tornar tudo em seu egocentrismo.
Uma pessoa ocupada demais com problemas invisíveis pra notar que a felicidade estava bem ali, o tempo todo, esperando ser encontrada.