quarta-feira, 30 de setembro de 2009
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Citações e breves devaneios
"Cumpri o meu papel mais do que adequadamente por dez bilhões de anos. Uma moeda de dois lados: destruição é necessária. Nada novo pode existir sem a destruição do velho."
O trecho acima é uma fala do personagem Destruição na HQ Sandman. Na obra de Gaiman, Destruição - assim como seus irmãos, os Perpétuos - é uma figura antropomórfica, uma personificação do arquétipo de "destruição". A proposta da graphic novel já é genial, na minha opinião, mas por trás de toda essa idéia criativa ainda há uma grande...bagagem cultural, eu diria.
Indo direto ao ponto, este trecho me lembrou de Sobre a modernidade de Baudelaire, onde ele aponta a ambiguidade do progresso, que por um lado traz destruição, mas que para ir para frente é preciso destruir o velho para criar o novo a partir de suas ruínas. Ou seja, o ser moderno é viver uma vida de paradoxo e contradição. Pois o progresso traz o desejo de mudança e transformação, para tal é preciso desconstruir e reconstruir e com isso vem o medo e o terror da desorientação, que não anula de forma alguma o desejo de mudança, os dois apenas coexistem.
Outra citação que me veio a cabeça assim que li essa fala de Destruição foi uma de Marx: "(...)Em nossos dias tudo parece estar impregnado do seu contrário." Que aliás, além de Gaiman ilustrar muito bem pra mim uma citação como essa com a fala de Destruição, é também possível perceber semelhanças entre a própria história em torno do personagem, afinal ele deixou seu posto entre os Perpétuos há séculos, desistindo da sua função, e ironicamente passa/ou o resto de sua existência construindo. Uma ironia sutil do autor.
Talvez Gaiman não estivesse pensando em nada disso quando escreveu mas de qualquer jeito registro aqui o como uma obra interessante como Sandman pode trazer a tona questões como essa.
Ah, agora são 3:04. Vou visitar Morpheus no reino do Sonhar.